O que são acordes invertidos?

Fernando Neves

Se você toca por cifras, com certeza já se deparou com um acorde separando duas cifras de notas por barras. Ou se você toca por partitura, com certeza sabe o que é encadeamento de acordes. A inversão de acordes é essencial para um bom encadeamento dos acordes ao piano, mas também traz brilho ao permitir que diferentes baixos sejam tocados ao violão com o mesmo acorde. Fica comigo até o final deste post porque vamos desmistificar este assunto.

Definição de acorde

Primeiro vamos definir o que é um acorde. A combinação de dois sons caracteriza um intervalo e a partir de três notas soando juntas, temos o que chamamos de acordes. As tríades são também chamadas de acordes de quinta e as tétrades acordes de sétima. No entanto, podemos ter acordes também de cinco notas ou mais. Os acordes de cinco sons são chamados de acordes de nona e os de seis sons acordes de décima primeira (Bohumil Med, Teoria da Música)

Inversão das tríades

Uma tríade pode ter duas inversões, assim temos três opções de montar o acorde. Considere, por exemplo, o acorde de dó menor, cuja cifra é Cm. As notas do acorde são: dó, mi bemol e sol. Quando executadas nesta ordem, estão em posição fundamental. Na primeira inversão a terça do acorde, no nosso caso o mi bemol (Eb), será a nota mais grave do acorde. Desta forma o acorde de dó menor na primeira inversão fica Mi bemol, sol e dó. Já na terceira inversão, a nota mais grave é a quinta do acorde ficando da seguinte forma: sol, dó e mi bemol.

Inversões do acorde de dó menor
Inversão de Tríades – Acorde de dó menor

Aplicação das inversões no piano

No piano e no teclado, o uso das inversões permite um melhor encadeamento entre dois acordes, evitando saltos. O encadeamento sem saltos é mais suave, e por isso é a forma adotada pelos músicos profissionais. Uma música tocada com todos os acordes na posição fundamental mostra que o músico é principiante. O exemplo a seguir mostra o encadeamento de acordes no tom de sol maior nas progressóes V-I e II-V-I.

Encadeamento de acordes
Encadeamentos de acordes

As cifras com barras definem o baixo do acorde. Nos exemplos anteriores não estamos mostrando a mão esquerda, mas como não há barras indicando um baixo diferente da fundamental do acorde, o baixo na mão esquerda será a fundamental do acorde. Assim, no acorde de ré maior, a mão esquerda toca ré, no acorde de sol maior, sol e assim sucessivamente. No entanto, o baixo pode também estar na terça ou na quinta do acorde. Assim, se temos o acorde de D/F#, temos o baixo na terça ou D/A, temos o baixo na quinta.

Ao piano então podemos usar qualquer inversão na mão direita, mas se o baixo na mão esquerda estiver na terça ou na quinta devemos cifrar indicando o baixo a ser tocado após a barra. O exemplo a seguir mostra este exemplo para piano.

Exemplo de acordes invertidos indicando o baixo
Acordes invertidos indicando o baixo

Aplicação das inversões no violão

Até aqui vimos a aplicação das inversões de acordes para piano. Mas e no violão? Como são executadas? No caso do violão, há diversas posições em que os acordes podem ser executados e basicamente três cordas que podem tocar o baixo. A exceção é o violão de sete cordas que possui um bordão as mais.

Uma vez conhecendo as posições de cada nota no braço do instrumento, é possível estabelecer desenhos ou fôrmas para cada cada acorde, sendo este invertido ou não.

Notas formadas no braço do violão

É preciso saber as notas no braço do violão para cada posição ou casa. A partitura e a tablatura a seguir mostram as notas das cordas soltas do violão iniciando na sexta corda com o mi, na quinta corda temos o lá e na quarta corda o ré formando o conjunto dos bordões que são usados no baixo. Na sequência temos o lá na terceira corda, o si na segunda e finalmente o mi na primeira. Note que a primeira corda solta está duas oitavas acima da sexta corda solta. A circunferência com o zero inscrito mostra que a corda deve ser tocada solta.

Notas das cordas soltas na partitura do violão

Na partitura e tablatura a seguir, mostramos todas as notas formadas na sexta corda do violão iniciando com a corda solta e a partir daí apertando cada casa do braço até a casa 12 cobrindo assim uma oitava cromática ( de meio em meio tom) em uma mesma corda. Neste caso vamos de mi a mi.

Notas formadas na sexta corda do violão
Notas formadas na sexta corda do violão

A mesma coisa pode ser feita nas demais cordas, assim, a quinta corda vai cobrir uma oitava de lá a lá, a quarta corda a oitava de ré a ré e assim sucessivamente como podemos ver nas figuras a seguir.

Notas formadas na quinta corda do violão
Notas formadas na quinta corda do violão
Notas formadas na quarta corda do violão
Notas formadas na quarta corda do violão
Notas formadas na terceira corda do violão
Notas formadas na terceira corda do violão
Notas formadas na segunda corda do violão
Notas formadas na segunda corda do violão
Notas formadas na primeira corda do violão
Notas formadas na primeira corda do violão

Estabelecendo padrões

Uma vez que sabemos onde encontram-se as notas no braço do instrumento, podemos estabelecer padrões ou desenhos com base em acordes conhecidos. Por exemplo, se temos o acorde de lá maior, cujo baixo é a corda lá solta e agora queremos executar o acorde de A/C#, basta pressionar a corda lá na quarta casa. Este desenho ou padrão pode ser arrastado de casa em casa no braço do violão para formar acordes que serão acrescidos de um semitom tanto no acorde quanto no baixo.

Assim, se movemos tudo para trás temos o acorde de Ab/C ou G#/D#. Da mesma forma, se avançamos a nossa fôrma de acorde teremos: A#/C## ou Bb/D. O exemplo as seguir mostra todos os acordes formados com esta fôrma em A. mantivemos a notação mais simples evitando dobrado sustenidos ou dobrados bemóis.

Acordes com baixo na terça na forma de A
Acordes maiores com baixo na terça na fôrma de A

Perceba no exemplo que o número do lado da nota representa o dedo a ser utilizado. O número 1 repetindo em todas as notas com exceção do baixo sugerem uma pestana com o dedo 1 e o uso do dedo 3 (anular) para executar o baixo na terça. Já o número 4 dentro do círculo está indicando que aquela nota, no nosso caso o baixo, deverá ser executado na quarta corda.

Inversão de acordes menores

O mesmo procedimento podemos aplicar ao acorde menor. Neste caso, o baixo será na terça menor. O exemplo a seguir mostra a mesma fôrma de A, mas agora com a terça menor.

Acordes menores com baixo na terça na fôrma de A
Acordes menores com baixo na terça na fôrma de A

Usando o mesmo raciocínio podemos encontrar outras fôrmas para executar os mesmos acordes. No caso da guitarra, há uma maior disponibilidade de espaço no braço, o que permite a utilização de mais opções.

Vídeos selecionados

A seguir deixo o vídeo do Philippe Lobo no canal do Cifra Club que apresenta de forma bastante clara e pausada este tema aplicado ao violão.

Aula com Philippe Lobo do Cifra Club sobre inversão de acordes no violão

Outro vídeo muito útil é a dica do mestre Nelson Faria mostrando como encontrar as inversões de acorde no braço do violão

Dica de Nelson Faria para encontrar as inversões de acordes no braço do violão.

O que são dominantes secundários?

Sabe aquelas coisas que parecem ser muito complicadas, mas na verdade são bem simples? É exatamente isso que acontece com os acordes dominantes secundários. A primeira vez que ouvi falar sobre eles, confesso que fiquei perdido. Mas depois de entender como eles funcionam, percebi que são fundamentais para dar mais emoção e movimento às músicas.

Definição

Acordes dominantes secundários são os acordes que preparam os graus diatônicos. Calma, não se desespere se não sabe o que são graus diatônicos! Os graus diatônicos de uma escala são as notas que formam a escala e estão dentro de uma mesma tonalidade. Por exemplo, se estamos em dó maior o primeiro grau da escala é dó, segundo é ré e assim sucessivamente, sendo todos naturais, já que na armadura de dó maior não há nenhum acidente. Já no tom de ré maior, as notas diatônicas são ré, mi, fá sustenido, sol, lá, si e dó sustenido. Se ficou com dúvida dá uma olhada em nossos vídeos  sobre tonalidades (Escalas maiores naturais e Escalas maiores nas demais tonalidades).

Mas aí você deve estar se perguntando: “ok, mas e os acordes dominantes secundários?”. Calma, que eu explico. Assim como temos uma escala de notas, podemos montar uma escala de acordes dentro do campo harmônico de cada tonalidade. E a dominante é a quinta nota da escala. Em dó maior, por exemplo, seria o sol com sétima (G7). Já em ré maior, seria o lá com sétima (A7).

A dominante, por sua vez, prepara a tônica, que é o primeiro grau da escala. E é aí que entram os acordes dominantes secundários. Eles são as quintas de cada acorde. Por exemplo, no campo harmônico de dó maior, para ir de C para Dm, podemos preparar com o A7, que é a quinta de ré. E assim sucessivamente, até chegar em Am, que é a tônica da tonalidade.

O único grau da escala que não é usual prepararmos com acorde dominante secundário é o sétimo grau. No caso do campo harmônico de dó maior, seria o B meio diminuto. Isso porque é um acorde instável, e sua quinta é o fá sustenido, que não é diatônico do tom de dó maior.

Mas por que tudo isso é importante? Porque os acordes dominantes secundários dão uma sensação de resolução à música, o que cria uma tensão que é muito interessante. Eles são muito usados em músicas de jazz e de blues, por exemplo. Mas é claro que podem ser usados em diversos outros gêneros musicais, como o rock e o pop.

Escalas de Acordes

Da mesma forma que temos uma escala de notas, podemos montar uma escala de acordes dentro do campo harmônico de cada tonalidade (dê uma olhada no nosso post de campos harmônicos- Link). Para simplificar, a dominante é a quinta nota da escala ou no caso da escala de acordes é o quinto grau da escala. Em dó maior seria o sol com sétima (G7), em ré maior seria o lá com sétima (A7). Assim como a dominante prepara a tônica que é o primeiro grau da escala, os dominantes secundários são as quintas de cada acorde. Assim, no campo harmônico de dó maior para ir de C para Dm, posso preparar com o A7 que é a quinta de ré, para ir de Dm para Em, preparamos com o B7 que é a quinta de E, de Em para F preparamos com o C7 que é a quinta de F, de F para G preparamos com D7 que é quinta de G e de G para Am preparamos com E7 que é a quinta de A. O único grau da escala que não é usual prepararmos com acorde dominante secundário é o sétimo grau no caso do campo harmônico de dó maior, seria o B meio diminuto por ser um acorde instável. Além disso, sua quinta é o fá sustenido que não é diatônica do tom de dó maior.

Exemplo

Na música saudades da Bahia de Dorival Caymmi, há alguns trechos com uma sequência de dominantes secundários. Do compasso 11 até o final do trecho abaixo temos as seguintes sequências de acordes: Gm7 preparando C7 que por sua vez prepara F7 que prepara Bb7 que prepara Eb.

Trecho saudades da Bahia de Dorival Caymmy