Allegro, Adagio e mais: A História por Trás dos Termos Italianos nas Partituras


Você já se perguntou por que, ao abrir uma partitura, se depara com palavras como “allegro”, “andante” ou “forte”? Por que, em um universo tão universal quanto a música, a língua italiana é a escolhida para nos guiar através dessas notas e ritmos?

Bem, prepare-se para uma viagem fascinante pela história da música e da Itália, onde vamos desvendar juntos o motivo dessa escolha linguística. Vamos mergulhar em séculos de tradição e inovação, explorar grandes compositores e a evolução da notação musical. E o melhor de tudo, você não precisa ser um maestro ou falar italiano para embarcar nesta aventura.

A resposta a essa indagação nos leva por uma viagem fascinante pela rica tapeçaria histórica da música clássica. Como o italiano, uma língua nascida da paixão e da expressão artística, se tornou a linguagem padrão para descrever nuances musicais? Por que Vivaldi, Corelli e outros mestres italianos deixaram uma marca indelével nas partituras, moldando a forma como músicos de todo o mundo se comunicam através da música?

A história da Notação Musical

A notação musical, como a conhecemos hoje, é o resultado de séculos de evolução e refinamento. Sua origem remonta à antiguidade, quando os primeiros sistemas de notação foram desenvolvidos para registrar a música. No entanto, a notação musical moderna, com sua rica linguagem de símbolos e termos, deve muito à Itália e à sua influência na música ocidental.

A história da notação musical começa na Grécia Antiga, onde os primeiros sistemas foram desenvolvidos. Estes eram bastante rudimentares e limitados em sua capacidade de representar a música de forma precisa. Consistiam principalmente de letras do alfabeto grego escritas acima das palavras de um texto para indicar a melodia.

Com o passar do tempo, estes sistemas de notação evoluíram e se tornaram mais sofisticados. No entanto, foi durante a Idade Média, especificamente no século IX, que a notação musical começou a se parecer mais com a que conhecemos hoje. Durante este período, os monges europeus começaram a desenvolver um sistema de notação para registrar o canto gregoriano, uma forma de música litúrgica da Igreja Católica.

Este sistema de notação, conhecido como notação neumática, era composto por símbolos chamados neumas que eram escritos acima das palavras de um texto. Cada neuma representava uma nota ou um grupo de notas e indicava a direção melódica, mas não a duração exata das notas.

No século XI, um monge italiano chamado Guido d’Arezzo fez uma série de inovações que revolucionaram a notação musical. Ele introduziu o sistema de linhas e espaços que usamos hoje para representar diferentes alturas de notas, bem como o conceito de claves para indicar a altura exata das notas. Ele também desenvolveu o sistema de solfejo que usamos para nomear as notas (do, re, mi, fa, sol, la, si).

A partir daí, a notação musical continuou a evoluir. No século XIV, surgiu na França um sistema de notação chamado Ars Nova, que introduziu a ideia de notas de diferentes durações. Isso permitiu aos compositores escrever música com ritmos mais complexos e variados.

No entanto, foi durante o Renascimento e o período Barroco que a Itália realmente deixou sua marca na notação musical. Durante este tempo, a Itália era um centro de inovação musical e muitos dos termos e símbolos que usamos hoje foram desenvolvidos por compositores italianos.

Por exemplo, durante o século XVII, o compositor italiano Claudio Monteverdi introduziu o conceito de dinâmica (variações de volume) na música. Ele usou termos como “piano” e “forte” para indicar se a música deveria ser tocada suavemente ou fortemente. Estes termos ainda são usados hoje.

Da mesma forma, durante o século XVIII, o compositor italiano Antonio Vivaldi fez uso extensivo de termos como “allegro” e “adagio” para indicar o andamento da música. Estes termos também se tornaram parte integrante da notação musical.

Assim, ao longo dos séculos, a notação musical evoluiu de um sistema simples de letras e símbolos para uma linguagem rica e complexa capaz de representar todas as nuances da música. E muito disso se deve à influência da Itália e aos seus compositores, que contribuíram imensamente para o desenvolvimento e padronização da notação musical.

Portanto, da próxima vez que você abrir uma partitura e ver palavras como “allegro”, “piano” ou “forte”, lembre-se de que você está olhando para um pedaço da história da música. A língua italiana na música é um testemunho da influência duradoura da Itália no mundo da música.

A Tradição Italiana na Música

Para compreender a presença marcante do italiano nas partituras musicais, é fundamental traçar os primeiros acordes dessa história no período renascentista. Durante esse renascer cultural, ocorrido entre os séculos XIV e XVI, a Itália não apenas testemunhou uma explosão de criatividade nas artes, ciências e literatura, mas também se destacou como um epicentro musical.

No coração desse movimento estava a cidade de Florença, berço do Renascimento italiano. Aqui, artistas, cientistas e músicos convergiam, impulsionados por uma busca coletiva por conhecimento e expressão artística. Foi nesse ambiente efervescente que as sementes da tradição musical italiana foram plantadas.

Para entender o papel crucial desempenhado pela Itália na música clássica, devemos recuar até o final da Idade Média. Foi nesse período que monges italianos, muitos deles residentes em mosteiros, dedicaram-se à cópia manual de manuscritos musicais. Esses monges, guardiões da tradição litúrgica, não apenas preservaram as composições existentes, mas também contribuíram para a evolução da notação musical.

O uso do italiano nessas partituras pode ser rastreado até os mosteiros, onde os monges copiavam meticulosamente os cânticos gregorianos e outras obras musicais. A influência da Igreja Católica na preservação e propagação da música era inegável, e a língua italiana começou a encontrar seu lugar na notação musical por meio desses escribas religiosos.

Durante o Renascimento, a ascensão do Humanismo trouxe consigo uma revalorização das artes e da cultura clássica. Este movimento de redescobrimento do conhecimento greco-romano teve um impacto profundo na música. Compositores italianos, inspirados pelos ideais humanistas, buscavam expressar emoções e narrativas de uma maneira mais vívida. Foi nesse contexto que surgiram as primeiras formas musicais modernas, como a canção e a madrigal.

À medida que o Renascimento florescia, as cortes italianas se tornaram centros vibrantes de mecenato artístico. Famílias nobres, como os Médici em Florença, apoiavam artistas e músicos, proporcionando um ambiente propício para a inovação. Compositores como Palestrina, um ícone da música sacra, contribuíram significativamente para o desenvolvimento da polifonia vocal, influenciando gerações futuras.

A tradição italiana na música não estava confinada apenas aos salões nobres; ela também permeava os teatros populares e as celebrações públicas. O uso do italiano como veículo para expressar emoções na música estava em sintonia com a ênfase crescente na língua vernácula e na comunicação direta com o público.

Assim, no alvorecer da música clássica, a Itália emergiu não apenas como um berço de grandes compositores, mas também como um ponto focal onde a linguagem musical começou a ser moldada e codificada. A tradição italiana na música não foi apenas uma escolha acidental; foi uma resposta à efervescência cultural, à influência da Igreja e à busca por uma expressão mais vívida na arte musical. A seguir exploraremos como a ópera, uma inovação genuinamente italiana, amplificou ainda mais essa tradição, consolidando o italiano como a linguagem da música clássica.

O papel da Ópera

A ópera, nascida nas exuberantes cortes e teatros italianos do final do século XVI, se tornou um catalisador fundamental na consolidação do italiano como a linguagem primordial nas partituras musicais. Surgindo como uma fusão de música, drama e encenação teatral, a ópera representou uma evolução dramática na forma como a música era concebida e apresentada. Compositores como Claudio Monteverdi, considerado o pai da ópera, foram pioneiros nesse gênero inovador, elevando a música a novas alturas expressivas.

O casamento entre a música e a narrativa dramática na ópera proporcionou um terreno fértil para o desenvolvimento de termos e expressões específicos em italiano. Palavras como “aria,” “recitativo,” e “libretto” tornaram-se intrínsecas ao vocabulário operístico, moldando não apenas a forma como as óperas eram compostas, mas também influenciando as partituras instrumentais. A ópera não era apenas um espetáculo musical; era uma experiência total que transcendia as barreiras linguísticas, unindo audiências através de emoções e histórias poderosas.

Além disso, a ópera desempenhou um papel crucial na popularização da língua italiana. Ao ser apresentada em teatros e salões aristocráticos, a ópera não só atraiu a elite cultural, mas também se tornou acessível ao público em geral. O uso do italiano como língua operística ajudou a estabelecer uma conexão mais profunda entre a música e o ouvinte, permitindo que a expressividade e a emoção transcendessem as fronteiras linguísticas e fossem compreendidas universalmente.

Dessa forma, a ópera floresceu como um fenômeno cultural italiano que transcendia as fronteiras nacionais, disseminando não apenas a música, mas também a língua italiana pelo mundo. O impacto duradouro desse gênero operístico na música clássica é evidente não apenas nos teatros líricos, mas também nas partituras instrumentais, onde termos e convenções estabelecidos pela ópera continuam a ressoar, solidificando o italiano como a linguagem através da qual a música clássica se comunica suas mais profundas emoções e narrativas.

A Evolução da Notação Musical até os dias de Hoje

À medida que a música continuava a evoluir, a notação musical também precisava evoluir. No século XIX, com o advento da música romântica, a notação musical se tornou ainda mais complexa. Compositores começaram a usar uma variedade de novos símbolos e marcas para indicar coisas como articulação (a maneira como as notas são tocadas), ornamentação (decorações adicionadas às notas) e nuances de tempo e dinâmica.

No século XX, a notação musical foi estendida ainda mais para acomodar a música moderna e contemporânea. Compositores experimentais introduziram uma variedade de novos símbolos e técnicas de notação para representar os sons e as técnicas de execução que estavam explorando em suas composições.

Apesar dessas mudanças e adições, a base da notação musical – a pauta, as claves, as notas e os termos italianos para dinâmica e andamento – permaneceu consistente. Isso se deve em grande parte à influência da Itália e aos seus compositores, que desempenharam um papel crucial na padronização da notação musical.

Wave de Tom Jobim – Dois Arranjos de cordas pra você.

“Wave” é uma música em ritmo de bossa nova e jazz escrita por Antônio Carlos Jobim, também conhecido como Tom Jobim. Tom além de compositor era pianista, arranjador e cantor. Ele foi um dos criadores do estilo de música brasileira conhecida mundialmente como bossa nova. Nascido no Rio de Janeiro em 1927 e falecido em 1994, Jobim foi um compositor prolífico que escreveu muitas músicas que se tornaram padrões no repertório de jazz e pop.

A m´usica wave foi e gravada em seu álbum de 1967 com o mesmo nome. A versão original era instrumental, mas mais tarde Tom adicionou a letra em português e também a traduziu elaborando uma versão em inglês.

A letra em português tem uma história interessante contada pelo próprio Tom. Na época em que escreveu a canção, ele estava morando nos Estados Unidos e tinha sido convidado a gravar com Frank Sinatra. Então o colocaram em um quarto de hotel com um piano e foi ali que compôs a melodia da música wave. Tom então, pediu ao Chico Buarque que escrevesse uma letra, mas o tempo foi passando e nenhuma notícia do Chico.

Um dia Jobim resolve ligar para ele pra saber como andava a letra da música. Ele então lhe respondeu: “Ainda não está pronta, mas já tenho o primeiro verso”. Tom então quis saber ao que Chico lhe respondeu: “Vou te contar”. Depois disso, Tom resolver terminar a letra da música ele mesmo. A versão da letra em inglês segue a também foi escrita por ele mesmo.

A popularidade de wave pode ser atribuída à sua melodia cativante e à forma como captura a essência da música brasileira. Foi interpretada por muitos artistas, incluindo Frank Sinatra, Johnny Mathis e Elis Regina com Toots Thielemans.

Gravada por volta de 500 vezes por artistas de jazz e música pop no Brasil e internacionalmente, tornou-se um ícone internacional da cultura brasileiras.

Agora, vamos falar sobre dois arranjos instrumentais escritos para esta música que trago em destaque neste post. O primeiro é um arranjo para bandolim para solo com acompanhamento de violão acústico.

O arranjo para bandolim é um ótimo exemplo de como a bossa nova pode ser tocada por um instrumento que tradicionalmente no Brasil é usado nas rodas de choro. O bandolim dá uma sensação leve e arejada, inovando na interpretação, mas mantendo o estilo clássico da bossa nova. O acompanhamento do violão acústico fornece uma boa base rítmica, enquanto o solo ao bandolim adiciona um toque de virtuosismo à performance.

O segundo é um arranjo para violino solo com acompanhamento de violão acústico com o Cello tocando a linha de baixo. O Cello também pode ser substituído por baixolão, baixo elétrico e até mesmo o contrabaixo acústico no estilo jazz, sem o arco. O violino é um instrumento versátil que é usado em muitos estilos diferentes de música, do clássico ao rock, jazz ou bossa nova.

Enquanto o bandolim no primeiro arranjo tem um som brilhante e alegre que é perfeito para tocar em ritmo de bossa nova, o arranjo para violino, por outro lado, dá uma abordagem mais sombria e introspectiva da música. O solo de violino é lindamente melódico, e o violoncelo fornece uma linha de baixo andante (walking bass) típica do jazz complementando a harmonia e ritmo do violão.

Antônio Carlos Jobim era um mestre da melodia e harmonia, e “Wave” é um exemplo perfeito de seu gênio. A melodia da música é simples e cativante, mas tem uma estrutura harmônica sofisticada que é típica da música de Jobim.

Letra da Música em Português

Vou te contar
Que os olhos já nem podem ver
Coisas que só o coração pode entender
Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho

O resto é mar
É tudo que não sei contar
São coisas lindas que eu tenho pra te dar
Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho

Da primeira vez, era a cidade
Da segunda, o cais, a eternidade

Agora eu já sei
Da onda que se ergueu no mar
E das estrelas que esquecemos de contar
O amor se deixa surpreender
Enquanto a noite vem nos envolver

Da primeira vez, era a cidade
Da segunda, o cais, a eternidade

Agora eu já sei
Da onda que se ergueu no mar
E das estrelas que esquecemos de contar
O amor se deixa surpreender
Enquanto a noite vem nos envolver

Letra da Música em Inglês

So close your eyes, for that’s a lovely way to be
Aware of things your heart alone was meant to see
The fundamental loneliness goes whenever two can dream a dream together

You can’t deny, don’t try to fight the rising sea
Don’t fight the moon, the stars above, don’t fight me
The fundamental loneliness goes whenever two can dream a dream together

When I saw you first, the time was half past three
When your eyes met mine, it was eternity
By now we know the wave is on it’s way to be
Just catch the wave, don’t be afraid of loving me
The fundamental loneliness goes whenever two can dream a dream together

When I saw you first the time was half past three
When your eyes met mine it was eternity
By now we know the wave is on it way to be
Just catch that wave don’t be afraid of loving me
The fundamental loneliness goes whenever two can dream a dream together

Together

Together