Aprenda Encontrar Qualquer Intervalo Musical

A teoria dos intervalos é matéria obrigatória a todos os músicos. Por quê? Simplesmente porque é impossível entender como são formados os acordes, suas tensões, trabalhar escalas, harmonizações, improvisações e por aí vai. Não é uma questão meramente teórica. Intervalos na música é algo que está ligado à prática e performance de qualquer instrumento. A menos que você simplesmente decora a posição dos acordes no braço do violão ou da guitarra ou piano e não se interessa por conhecer de harmonia ou improviso, talvez sobreviva sem eles. No entanto, se você é um músico profissional, seguramente sabe de sua importância.

Neste post vamos entender de uma vez por todas como encontrar os intervalos em qualquer tonalidade, ou melhor, iniciando em qualquer nota, mas relacionando o intervalo à tonalidade. Para isso, é preciso saber o básico. O que são os intervalos? A resposta é simples: Intervalo é a distância entre duas notas. Se estamos na escala de dó maior, dó-ré é um intervalo de segunda, do-mi de terça e assim por diante. O problema começa quando começamos a classificá-los como maiores, menores, justos, aumentados e diminutos.

Para que servem?

Vamos primeiro falar de sua utilidade para montar os acordes. Uma tríade maior é formado pela tônica ou fundamental, a terça maior e a quinta ( 1-3-5), já as tríades menores pela tônica, terça menor e quinta justa ( 1-3m-5).  Além disso, podemos ter tríades com a quinta aumentada (1-3-5+) ou diminuta (1-3m-5°). Calma, já vamos explicar o que são intervalos aumentados e diminutos.

Para formar acordes de Tétrades acrescentamos a sétima maior ou menor, mas ainda podemos ter os acordes diminutos que são acordes menores com a quinta e a sétima diminutos ou meio diminutos que possuem a terça menor, quinta diminuta e sétima menor. Ou seja, sem saber os intervalos fica impossível montar um acorde. Sem falar ainda nos acordes de tensão.

Maiores, Menores e Justos

Então vamos começar definindo os intervalos que podem ser maiores menores e justos, sendo que segundas, terças e sextas são maiores ou menores enquanto as quartas, quintas e oitavas são intervalos justos. Não entraremos em detalhes porque alguns são maiores ou menores e outros são justos, mas você pode dar uma olhada em outro post nosso onde explicamos estas diferenças. 

Ao abaixarmos um semitom em um intervalo maior, temos um intervalo menor. Se por outro lado abaixamos um semitom em um intervalo menor e é chamado de diminuto. Agora se aumentamos um semitom em um intervalo maior ele fica aumentado. No caso dos intervalos justos é mais simples, se aumentamos um semitom ele fica aumentado e se abaixamos um semitom ele fica diminuto. 

Semitons como referência

Uma das forma de encontrar os intervalos é contando quantos semitons há entre eles. Assim, duas notas separadas por 1 semitom formam um intervalo de segunda menor, 2 semitons de distância formam a segunda maior, com 3 semitons de distância temos a terça menor, com 4 semitons temos a  terça maior e assim sucessivamente. No entanto, pensar assim não é prático na hora de tocar, então é melhor pensar na tonalidade e na armadura de clave. Assim, temos uma relação direta com os acordes que farão uso deles.

Então vamos começar com a escala de dó maior que não possui nenhum acidente (sustenidos ou bemóis). No caso da terça, por exemplo, ela pode ser maior ou menor. Na escala de dó maior ela é a terceira nota, ou seja o mi. Então o mi natural é a nossa terça maior e o mi bemol a nossa terça menor. O lá na escala de dó maior é a sexta nota, então é chamada de sexta maior. Se abaixamos um semitom temos a sexta menor que coincide com a quinta aumentada, já que o lá bemol e o sol sustenido (que é a quinta de dó) possuem o mesmo som e são chamados de notas enarmônicas. Perceba que não possuem exatamente o mesmo nome, porque isso vai depender de sua função harmônica, mas o mesmo som. Mas isso já é assunto para outro post.

Na prática, não usamos os intervalos de segunda, terça e sexta na sua forma aumentada ou diminuta. A quarta é mais comum na forma justa e aumentada, já que a quarta diminuta é a terça. Já a quinta pode ser tanto aumentada ou diminuta. Já a sétima é a mais flexível de todas e pode assumir a forma de maior, menor e diminuta (que coincide com a sexta).

Assim, como exemplo de quintas temos o intervalo de do-sol sendo uma quinta justa, dó-sol♯ a quinta aumentada (5+) e dó- sol♭ a quinta diminuta. Já na sétima, temos o si como sétima nota e ele é a sétima maior. Abaixando um semitom temos o si ♭ que é a sétima menor, nas cifras representadas apenas como 7, enquanto a sétima maior é representada nas cifras por M7, 7M ou aind 7+. Abaixando mais um semitom, temos o si dobrado bemol si♭♭ que é enarmônico do  lá que é a sexta menor. 

Aplicando em todas tonalidades

Se você entendeu a lógica dos intervalos usando a escala de dó maior, basta usá-la nas outras tonalidades, mas tomando o cuidado de verificar a armadura de clave. antes de aplicar os intervalos. Por exemplo,  a terça maior de lá é o dó sustenido e não o dó natural. Por quê? Porque a escala de lá maior tem 3 sustenidos sendo eles o fá♯, o dó♯ e o sol♯. Lembre-se que precisamos manter a relação de tom-tom-semitom- tom-tom-tom- semitom da escala maior.  Então a escala de lá maior é: lá, si, dó♯, ré, mi, fá♯, sol♯ . Neste caso, a quinta justa é a nota mi, a quinta diminuta o mi bemol e a quinta aumentada o mi dobrado sustenido que é enarmônico do fá.

A Figura a seguir mostra exemplos de intervalos de quarta justa começando em diferentes notas. Note que fá é a quarta nota da escala de dó maior, então temos o intervalo dó-fá. Si bemol é a quarta nota da escala de Fá maior, então é a quarta de fá. Da mesma forma, dó é a quarta de sol e ré bemol a quarta de lá bemol. Podemos ainda ver que há 5 semitons separando as duas notas dos intervalos de quarta justa. Ouça os intervalos e perceba a transposição.

Intervalos de quarta justa

Tabela com todos os intervalos

Para praticar, comece tocando a escala maior de uma dada tonalidade e a partir daí vá tocando os intervalos aumentando ou diminuindo semitons e dizendo ou pensando nos seus nomes. Para facilitar a vida e também para servir de referência, deixo uma tabela com os intervalos em todas as tonalidades. Você pode clicar com obotão direito e salvá-lo em seu computador para futuras consultas.

Tabela com todos intervalos musicais
Tabela com Todos os Intervalos Musicais

Veja que quando as notas da coluna coincidem com as das linhas, temos uma oitava ou uníssono (1) ou (8). Para usar a tabela, localize a primeira nota do intervalo na na primeira coluna e na sequência, busque a segunda nota do intervalo na primeira linha da tabela. Assim, o intervalo de do-fá♯ é indicado na linha do dó e coluna do fá♯ o que nos mostra que é um intervalo de quarta aumentada. Por que não o chamamos de quinta diminuta? Por que daí deveria estar escrito como do-sol♭.

Por outro lado, se preciso descobrir qual a nota que forma um dado intervalo com uma outra nota dada, basta seguir na mesma linha até encontrar a classificação dorespectivo intervalo.

Alguns exemplos

O intervalo sol♯ – ré é um intervalo de  quinta diminuta ou quarta aumentada (C## que é enarmônico de D), enquanto o intervalo ré- sol♯ forma o mesmo intervalo de quarta aumentada ou quinta diminuta (lá♭).

O intervalo de si♭- dó é uma segunda maior, enquanto o intervalo de dó – si♭ é uma sétima menor.

Qual seria a quinta aumentada de dó♯? Basta encontrar o dó ♯ e seguir na mesma linha até encontrar 5+, temos então que a nota que completa o intervalo é sol♯.

Ou ainda, qual a sexta de lá? Temos pela tabela que é a nota fá♯, já que quando dizemos a sexta, segunda ou terça estamos referindo ao intervalo maior (6M).

Em resumo, a tabela o a distância em semitons ajuda, mas o pelo menos para mim, pensar na armadura de clave e no grau (posição da nota na escala maior) tem maior utilidade. Escolha a forma em que você melhor se adapte e pratique bastante!

O que são e como usar os acordes diminutos

O que são acordes diminutos e para que servem?

O acorde diminuto pode ser usado de diversas maneiras e há muitas dúvidas sobre como aplica-lo. Uma das aplicações é usá-lo como acorde de passagem para dar um colorido à harmonia, podendo também ser usado nas modulações (mudanças de tonalidades, aproximações cromáticas, substituição da dominante, etc). Vamos primeiro entender como ele é formado e então veremos alguns exemplos de como utilizá-lo.

O termo diminuto significa diminuir e é usualmente aplicado quando temos um intervalo justo ou menor que foi abaixado em um semitom. Ao se falar em acorde diminuto, temos pelo menos três formas:
A primeira é a tríade diminuta em que um acorde menor tem sua quinta abaixada em um semitom. Por exemplo, o acorde de dó menor (Cm) é formado pela tônica dó (C ), a terça menor mi bemol (Eb) e a quinta justa sol (G). Desta forma, se abaixamos a quinta em um semitom temos a tríade diminuta de dó representada pela cifra C5b (formado pelas notas C, Eb, Gb). Podemos definir uma fórmula para sua formação sendo 1,3m,5b, onde os números representam os graus da escala maior. Então 1 é a tônica, 3 é a terça maior e no nosso caso 3b é a terça menor (abaixa meio tom na terça maior), 5 é a quinta justa, sendo que no nosso caso 5b é a quinta diminuta
O segundo tipo é o acorde meio diminuto que parte da tríade diminuta acrescentando a sétima menor, e cuja cifra para o acorde de dó meio diminuto é C75b ou CØ. A fórmula para este acorde é 1,3m, 5b, 7b (tônica, terça menor, quinta diminuta e sétima menor) que neste exemplo é formado pelas notas C,Eb,Gb,Bb.
A terceira forma é o acorde diminuto cuja fórmula é 1,3b,5b, 7bb, então 7b é a sétima menor e 7bb a sétima diminuta. Em resumo, dado um acorde maior com sétima qualquer (lembrando que no acorde de sétima esta é a sétima menor), devemos abaixar meio tom na terça, meio tom na quinta e meio tom na sétima menor, ficando desta forma, tônica, terça menor, quinta diminuta e sétima diminuta. No nosso exemplo em dó, temos o dó diminuto cifrado da seguinte forma: C°.

Exemplos

Vamos ver alguns exemplos de acordes diminutos em diversas tonalidades:
C° : As notas do acorde maior são C, E, G. Acrescentando a sétima temos C, E, G, Bb. Aplicando a fórmula temos C, Eb, Gb, Bbb (ou C, Eb, Gb, A). Bbb (si dobrado bemol) é enarmônico de lá, mas do ponto de vista de nomenclatura não é correto notar como A e sim Bbb.

D° : Partindo do acorde maior com sétima: D, F#,A , Cb e baixando a terça quinta e sétima temos: D, F, Ab, Cbb (ou D, F, Ab, Bb).

Resumindo temos:

Os acordes diminutos criam tensão na música. Em harmonia, dizemos que ele pede resolução, pois o som fica “no ar” esperando que algo aconteça. A tensão gera uma expectativa. É como jogar uma bola para o alto e esperar que ela retorne e bata no solo. O momento do retorno da bola é nossa resolução.
Quando montamos o campo harmônico maior (veja nosso post sobre harmônico maior), o acorde meio diminuto aparece no sétimo grau. Os acordes diminutos aparecem no segundo grau dos campos harmônicos menores e os acordes meio diminuto no sexto grau dos campos harmônicos menores (veja nosso post sobre campos harmônicos menores).
Mas a questão básica é: Como e quando posso usá-los?
Vamos verificar alguns usos típicos destes acordes:

Substituto da dominante

 Todo acorde diminuto é uma acorde com sétima dominante com a tônica alterada para meio tom acima. Se observarmos os acordes de C7 e C#° veremos que eles possuem três notas em comum o que nos possibilita intercambiá-los, ou seja usar o acordo diminuto meio tom acima como substituto do acorde dominante (com sétima).
Exemplo:
C7 : formado pelas notas C, E, G, Bb
C#°: formado pelas notas C#,E,G, Bb

ǁ Dm7ǀ G7ǀ C7Mǁ pode ser substituído por ǁDm7ǀG#°ǀC7mǁ

(Por questões didáticas não fizemos es encadeamentos dos acordes, ou seja, eles se encontram na posição fundamental para facilitar o entendimento)

Acorde de passagem

O acorde diminuto pode ser usado como acorde de passagem. Quando há, por exemplo a distância de um tom entre um acorde e outro de uma progressão, ele pode ser preenchido com um acorde diminuto.
Exemplo:
ǁ I (1 tom) ii ( 1 tom) iii ( meio tom) IV ( 1 tom) V (1 tom) vi (1 tom) viiǁ

Exemplo:
ǁ C      Dm   ǁ

Como entre  dó e ré há um tom de distãncia, podemos inserir um acorde de passagem entre eles ficando:

ǁ C C#° Dm ǁ

 Dicas de Livros:

Livro de Harmonia Funcioanal – H.J.Koelreutter- 2a Edição


Funções Estruturais da harmonia – Arnold Schoenberg

Para saber Mais

Acordes para Ukulele em 5 Afinações ( + de 5 mil acordes) – Edson Oliveira.

Dicionário de Acordes para Piano e Teclados- Luciano Alves.

Dicionário de Acordes Cifrados: Harmonia aplicada à música popular- Almir Chediak