O que é substituição diatônica ou rearmonização

Pense em uma música que você considere trivial e em geral é tocada com apenas três acordes. Agora imagine o Tom Jobim tocando esta música usando todas os acordes do campo harmônico daquela tonalidade. Isso é o que chamamos de rearmonização, onde diferentes acordes do campo harmônico podem assumir a função de tônica, subdominante dominante.

Função Harmônica

Deixe-me tentar explicar sem entrar nos detalhes da harmonia funcional. Ao tocar uma música usamos basicamente três funções: a tônica, a dominante e a subdominante. A tônica dá a sensação de estabilidade,  a subdominante é um afastamento desta estabilidade e a dominante gera uma tensão de total instabilidade na música. Qualquer afastamento da tônica gera uma expectativa que pede resolução e esta resolução se dá sobre a tônica. Desta forma, se estamos em dó maior, o acorde de dó maior é a nossa tônica, o acorde de fá maior é a nossa subdominante e o acorde de sol com sétima a nossa dominante. Usamos os graus da escala para que possamos aplicar o conceito a todas as doze tonalidades da música ocidental. Para isso usamos os algarismos romanos para descrever cada grau.Assim, a tônica ou I é o primeiro grau, a subdominante ou IV é o segundo grau e a dominante ou V é o quinto grau.

Exemplo

No exemplo a seguir mostramos o afastamento da tônica indo para a subdominante, depois resolvendo na tônica e depois saindo da tônica indo para a dominante e resolvendo novamente na tônica. Ouça e perceba a tensão e a expectativa gerada quando saímos de dó maior e vamos para fá maior. Sentimos que falta algo  e então quando tocamos a tônica de novo temos um alívio de voltar pra casa. Agora perceba como esta tensão é maior ao tocar a dominante, que é o acorde de sol com sétima , ou o quinto grau da escala de dó maior. Neste caso, a tensão é ainda maior e novamente sentimos o alívio da resolução em dó maior.

Progressão Harmônica I- IV -I & I – V – I

A música é feita de progressões harmônicas onde exploramos as tensões e resoluções a todo o tempo.

A Substituição diatônica

A substituição diatônica nada mais é que substituir as notas do acorde por outra dentro da mesma tonalidade e que assuma a função da anterior. Assim, se estou tocando a tônica o novo acorde vai assumir a função de tônica, se estiver tocado a dominante, o acorde substituto assumirá a função de dominante e assim sucessivamente.

Mas como saber quais notas possuem a mesma função? Bem, o primeiro passo é identificar qual a função harmônica de cada acorde. Em seguida, identifique quais são os acordes relativos e anti-relativos. Vamos explicar então como encontrá-los.

Cada acorde possui acordes vizinhos chamados de relativos e outro anti-relativos que possuem notas em comum e podem ser usados como substitutos.

Pense no acorde de dó maior que é formado pelas notas dó, mi e sol. Agora monte um acorde que esteja uma terça abaixo. Temos então as notas lá, dó e mi que formam o acorde de lá menor. Perceba que o acorde de dó maior e o acorde de lá menor têm em comum duas notas o dó e o mi. Além disso, lá é o sexto grau da escala de dó maior e recebe o nome de escala relativa menor, então lá menor é relativo de dó maior. Para aplicar a qualquer tom, basta encontrar a sexta da escala. Ou seja o relativo de ré maior é si menor, o de Lá maior é fá sustenido menor e assim sucessivamente. Dê uma olhada no nosso post sobre acordes relativos se ainda ficou com dúvidas. 

Mas e o anti-relativo? Basta ir para o outro lado e encontrar o acorde uma terça acima do dó maior que é o mi menor, ou seja o terceiro grau menor da escala. Da mesma forma o anti relativo de ré maior é fá sustenido menor e o de lá maior é o dó sustenido menor.

Rearmonizando

Vamos ver um exemplo de uma música bem básica: Marcha soldado com apenas dois acordes, sendo a tônica e a dominante.Vamos então identificar as funções dos acordes que atuam como tônica e dominante. Na partitura da música a seguir vemos  que estamos no tom de fá maior, então nossa tônica é o fá maior (F) e a nossa dominante é a quinta com a sétima, ou seja, o dó com sétima (C7).

Partitura da canção Marcha soldado mostrando função harmônica da tônica e da dominante.
Canção Folclórica Marcha soldado mostrando funções harmônicas da Tônica e da Dominante.

Uma vez então definidas as funções dos acordes em cada compasso da música, vamos fazer as substituições. Para isso, vamos escolher os acordes do campo harmônico de fá maior. Se você não leu ainda o post sobre campos harmônicos, dá uma olhada tanto nos campos harmônicos maiores que é o nosso caso aqui, mas também veja o post sobre os campos harmônicos menores.

Campo Harmônico

Os acordes do campo harmônico maior segue a sequência a seguir:

I7M, IIm7, IIIm7, IV7M, V7, VIm7 e VII75b (meio diminuto). Desta forma, para o tom de fá maior temos: F7M, Gm7, Am7, Bb7M, C7, Dm7 e  Em75b.

Para a tônica, já vimos que a relativa é a sexta menor e a anti-relativa é a terça menor que no nosso caso são os acordes de Dm7 ( relativo de F7M) e Am7 ( anti-relativo de F7M). Para substituir a dominante que é C7 devemos buscar o relativo de dó maior que é mi menor e no nosso campo harmônico é o acorde de mi meio diminuto ou mi menor com sétima e quinta diminuta (Em75b). Outra opção seria o acorde anti-relativo de C7 que é o Am7. Com base nestas informações decidimos as substituições de acordo com o arranjo que estamos compondo. A seguir deixo minha rearmonização para a música marcha soldado.

Partitura da canção folclórica Marcha Soldado rearmonizada usando subistituição diatônica.
Canção Folclórica Marcha Soldado Rearmonizada

No vídeo a seguir você pode ouvir as duas versões da música marcha soldado. A primeira na forma original com apenas 2 acordes e a segunda versão já rearmonizada diatonicamente.

Vídeo mostrando versão original e rearmonizada da canção Marcha Soldado

Como encontrar as notas no braço do Ukulele e montar acordes

O instrumento

O ukulele é um instrumento que tem ganhado a atenção na música pop por sua sonoridade leve e agradável. O som traz uma sensação de estar em alguma ilha paradisíaca curtindo férias, talvez pela sua origem havaiana. É um instrumento recente, que teve a origem no século XX. Como curiosidade, ukulele no idioma havaiano significa pulga saltitante, mas estas informações você pode encontrar na Wikipedia.

Tipos de ukulele

São diversos tipos e formatos do instrumento e também diferentes afinações. Os modelos  mais usuais são o soprano que pode ser afinado em C ou G, o concert afinado em C e o tenor, também afinado em C. No entanto há outros tipos como o sopraníssimo, sopranino, barítono, banjolele entre outros.

Pra saber mais sobre tipos e modelos de ukulele indico o vídeo do João Tostes do canal Toca Ukulele que traz detalhes de todos eles.

Afinações

Para entender como são formados os acordes no ukulele, precisamos saber primeiro qual a afinação do instrumento. A afinação mais comum é em dó (C) em high G. Esta afinação também é conhecida como C6 porque as cordas soltas formam o acorde de dó com sexta.

A afinação mais comum é em dó em high G.

Desta forma, as notas formadas pela corda solta no ukulele de cima para baixo são na afinação em dó são:  Sol (G), dó (C), mi (E) e lá (A). Perceba que o acorde C6 é formado pela tônica C, a terça E, a quinta G e a sexta A. E por que high G? o high refere-se à corda G que é mais fina que as demais, produzindo um som mais agudo. Há porém, a possibilidade de afinação Low G. Neste caso, a nota G é mais grave e os arranjos para esta afinação são diferentes, mais próximos aos arranjos feitos no violão onde é possível fazer uma escala descendente até os sons mais graves, o que não é possível na afinação high G, que tem a característica mais havaiana.

Como todo instrumento de cordas, o braço do ukulele é dividido em casas e ao pressionar a corda sequencialmente de casa em casa, aumentamos a nota em meio semitom. Assim, a corda solta é afinada para dar a primeira nota da corda. No caso da afinação em dó, a primeira corda de cima para baixo é o sol. Então, se tocamos a corda solta temos sol (G), pressionando na primeira casa sol sustenido (G#), pressionando na segunda casa lá (A) e assim sucessivamente.

Afinação em High G ou Low G

A figura a seguir mostra as notas formadas na afinação em dó no braço do ukulele. Veja que as notas são as mesmas independente se a afinação é low G ou high G. O que muda é a altura da nota, ou seja, a mesma nota em oitavas diferentes.

Notas no braço do Ukulele na afinação em C (High G/ Low G)
Notas no braço do Ukulele

Afinação em High D ou Low D

A afinação em sol é uma quinta acima, então as cordas soltas terão cada uma delas notas afinadas uma quinta acima, ou seja, de cima para baixo temos: ré (D), sol (G), si (B) e mi (E), formando o acorde de G6. Neste caso temos a possibilidade de afinar em low D ou high D, porque a primeira corda de cima para baixo agora quando tocada solta emite a nota ré. Se temos a corda mais espessa, teremos a afinação low D, se mais fina teremos high D.

Ao se utilizar a afinação high G ou low G, é importante lembrar que ao tocar com outros instrumentos, os acordes e notas estão transpostos de uma quinta, assim ao tocar o acorde de dó maior no ukulele ele corresponderá ao acorde de sol maior no violão ou piano.

Formação dos Acordes

Como formar acordes então? Basta encontrar as notas do acorde e buscá-las no braço do instrumento. Vamos dar alguns exemplos de acorde de C na afinação mais comum que é também em C (podende ser tanto High G quanto low G). 

Vamos então encontrar no braço do Ukulele os acordes C (dó maior), Cm (dó menor), C7 (dó com sétima ) e Cm7  (dó menor com sétima) como exemplos.

Acorde de dó maior

O acorde C é formado pelas notas C, E e G , bastando pressionar a corda lá na terceira casa teremos de cima para baixo G, C, E e C. Todas as notas fazem parte do acorde C mostrado na figura a seguir.

corde de dó maior no braço do Ukulele.
Acorde de dó maior (C) no braço do Ukulele

Acorde de dó menor

O acorde de Cm é formado pelas notas, C, Eb e G. lembrando que para formar o acorde menor, basta baixar a terça do acorde maior em meio tom.

Uma das configurações então é deixar a corda sol solta e pressionar todas as demais na terceira casa. Desta forma, de cima para baixo temos as notas G, Eb, G e C, todas pertencentes ao acorde de dó menor.

Acorde de dó menor no braço do ukulele.
Acorde de dó menor no braço do ukulele

Acorde de dó com sétima

Para formar o acorde de C7 que é formado pelas notas  C, E, G e Bb, partimos do acorde em dó maior, mas precisamos substituir o C da corda lá  pelo Bb, já que as cordas G, C e E soltas já produzem notas que fazem parte do acorde. Então, pressionando a corda lá na primeira casa temos a nota Bb que faltava e a única a ser pressionada.

Acorde de dó com sétima no braço do ukulele
Acorde de dó com sétima (C7) no braço do ukulele

Acorde de dó menor com sétima

Finalmente, o acorde de Cm7 pode ser formado pressionando todas as cordas sobre a terceira casa, já que as notas do acorde são C, Eb, G e Bb. Com esta configuração as notas de cima para baixo ficam: Bb, Eb,G e C.

Acorde de dó menor com sétima no braço do ukulele
Acorde de dó menor com sétima no braço do ukulele

Pra facilitar a vida, deixo um esquema com os principais acordes na afinação High G nas tonalidades naturais.

Acordes maiores, menores e com sétima para ukulele nas tonalidades naturais
Acordes maiores, menores e com sétima para ukulele nas tonalidades naturais