Wave de Tom Jobim – Dois Arranjos de cordas pra você.

“Wave” é uma música em ritmo de bossa nova e jazz escrita por Antônio Carlos Jobim, também conhecido como Tom Jobim. Tom além de compositor era pianista, arranjador e cantor. Ele foi um dos criadores do estilo de música brasileira conhecida mundialmente como bossa nova. Nascido no Rio de Janeiro em 1927 e falecido em 1994, Jobim foi um compositor prolífico que escreveu muitas músicas que se tornaram padrões no repertório de jazz e pop.

A m´usica wave foi e gravada em seu álbum de 1967 com o mesmo nome. A versão original era instrumental, mas mais tarde Tom adicionou a letra em português e também a traduziu elaborando uma versão em inglês.

A letra em português tem uma história interessante contada pelo próprio Tom. Na época em que escreveu a canção, ele estava morando nos Estados Unidos e tinha sido convidado a gravar com Frank Sinatra. Então o colocaram em um quarto de hotel com um piano e foi ali que compôs a melodia da música wave. Tom então, pediu ao Chico Buarque que escrevesse uma letra, mas o tempo foi passando e nenhuma notícia do Chico.

Um dia Jobim resolve ligar para ele pra saber como andava a letra da música. Ele então lhe respondeu: “Ainda não está pronta, mas já tenho o primeiro verso”. Tom então quis saber ao que Chico lhe respondeu: “Vou te contar”. Depois disso, Tom resolver terminar a letra da música ele mesmo. A versão da letra em inglês segue a também foi escrita por ele mesmo.

A popularidade de wave pode ser atribuída à sua melodia cativante e à forma como captura a essência da música brasileira. Foi interpretada por muitos artistas, incluindo Frank Sinatra, Johnny Mathis e Elis Regina com Toots Thielemans.

Gravada por volta de 500 vezes por artistas de jazz e música pop no Brasil e internacionalmente, tornou-se um ícone internacional da cultura brasileiras.

Agora, vamos falar sobre dois arranjos instrumentais escritos para esta música que trago em destaque neste post. O primeiro é um arranjo para bandolim para solo com acompanhamento de violão acústico.

O arranjo para bandolim é um ótimo exemplo de como a bossa nova pode ser tocada por um instrumento que tradicionalmente no Brasil é usado nas rodas de choro. O bandolim dá uma sensação leve e arejada, inovando na interpretação, mas mantendo o estilo clássico da bossa nova. O acompanhamento do violão acústico fornece uma boa base rítmica, enquanto o solo ao bandolim adiciona um toque de virtuosismo à performance.

O segundo é um arranjo para violino solo com acompanhamento de violão acústico com o Cello tocando a linha de baixo. O Cello também pode ser substituído por baixolão, baixo elétrico e até mesmo o contrabaixo acústico no estilo jazz, sem o arco. O violino é um instrumento versátil que é usado em muitos estilos diferentes de música, do clássico ao rock, jazz ou bossa nova.

Enquanto o bandolim no primeiro arranjo tem um som brilhante e alegre que é perfeito para tocar em ritmo de bossa nova, o arranjo para violino, por outro lado, dá uma abordagem mais sombria e introspectiva da música. O solo de violino é lindamente melódico, e o violoncelo fornece uma linha de baixo andante (walking bass) típica do jazz complementando a harmonia e ritmo do violão.

Antônio Carlos Jobim era um mestre da melodia e harmonia, e “Wave” é um exemplo perfeito de seu gênio. A melodia da música é simples e cativante, mas tem uma estrutura harmônica sofisticada que é típica da música de Jobim.

Letra da Música em Português

Vou te contar
Que os olhos já nem podem ver
Coisas que só o coração pode entender
Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho

O resto é mar
É tudo que não sei contar
São coisas lindas que eu tenho pra te dar
Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho

Da primeira vez, era a cidade
Da segunda, o cais, a eternidade

Agora eu já sei
Da onda que se ergueu no mar
E das estrelas que esquecemos de contar
O amor se deixa surpreender
Enquanto a noite vem nos envolver

Da primeira vez, era a cidade
Da segunda, o cais, a eternidade

Agora eu já sei
Da onda que se ergueu no mar
E das estrelas que esquecemos de contar
O amor se deixa surpreender
Enquanto a noite vem nos envolver

Letra da Música em Inglês

So close your eyes, for that’s a lovely way to be
Aware of things your heart alone was meant to see
The fundamental loneliness goes whenever two can dream a dream together

You can’t deny, don’t try to fight the rising sea
Don’t fight the moon, the stars above, don’t fight me
The fundamental loneliness goes whenever two can dream a dream together

When I saw you first, the time was half past three
When your eyes met mine, it was eternity
By now we know the wave is on it’s way to be
Just catch the wave, don’t be afraid of loving me
The fundamental loneliness goes whenever two can dream a dream together

When I saw you first the time was half past three
When your eyes met mine it was eternity
By now we know the wave is on it way to be
Just catch that wave don’t be afraid of loving me
The fundamental loneliness goes whenever two can dream a dream together

Together

Together

Muito além dos 12 tons: explorando as Riquezas da Música Microtonal

A música tem o poder de nos transportar para diferentes estados de espírito, evocar emoções e despertar nossa imaginação. Desde a antiguidade, nós humanos buscamos explorar e expandir os limites da música e talvez você esteja se perguntando, mas o que é isso de música microtonal? A música ocidental como a conhecemos é baseada em doze tons, que são as notas da escala temperada : dó, do#, ré, ré #, mi e assim por diante até completar toda a escala cromática que possui doze notas. No entanto, a música oriental faz uso de notas que situam-se entre as notas da escala cromática. Assim, entre o dó e o dó sustenido, temos infinitas frequências sonoras. Neste post, vamos explorar o fascinante mundo da microtonalidade musical, explicando o que é, comparando-a com a música ocidental. Vamos também mostrar alguns exemplos de seu uso em diferentes culturas ao redor do mundo.

O Que é Microtonalidade?

Para compreender a microtonalidade, primeiro vamos recapitular o sistema de afinação que utilizamos. Na música ocidental, usamos uma escala temperada, dividida em 12 tons iguais, chamados de semitons. Essa divisão igual permite uma ampla variedade de combinações de tons e acordes, mas também limita a precisão e a riqueza sonora. No piano, quando tocamos um ré bemol, ele tem o mesmo som do dó sustenido, porque a nota é afinada em uma frequência m´édia. Já no violino, por exemplo é possível perceber que dó sustenido e ré bemol não são a mesma nota. No entanto, se estamos dentro de uma mesma escala, temos 12 notas na escala cromática e a distância entre elas é de meio tom ou um semitom.

A microtonalidade, por outro lado, expande essa divisão em unidades menores do que um semitom. Os microtons são intervalos que representam frações do tom, permitindo uma maior flexibilidade e uma paleta sonora mais ampla. Isso significa que podemos acessar intervalos que não estão presentes na música ocidental tradicional, como quartos de tom, quintos de tom, etc.

Comparando Tons Temperados com Microtons

Para compreender melhor a diferença entre tons temperados e microtons, vamos usar um exemplo simples. Imagine uma escala de oito notas, semelhante à escala maior ocidental. Na música ocidental, cada nota é separada por um semitom. No entanto, na música microtonal, podemos dividir cada semitom em intervalos ainda menores.

Vamos supor que dividamos cada semitom em dois microtons. Agora, em vez de oito notas em nossa escala, teremos dezesseis, permitindo combinações de intervalos mais variados e complexos. Essa abordagem oferece uma liberdade criativa maior, permitindo que os compositores explorem uma ampla gama de nuances sonoras.

Exemplos de Música Microtonal em Outras Culturas

Agora que entendemos o conceito básico da microtonalidade, vamos explorar como ela é usada em diferentes culturas musicais ao redor do mundo. A cultura árabe, a israelense, a hindu e a chinesa fazem uso da microtonalidade em sua música. Cada cultura possui instrumentos próprios, em geral de corda ou sopro onde é possível trabalhar entre os tons.

A música árabe, por exemplo, é conhecida por seu uso de maqams, que são escalas modais microtonais. Cada maqam possui uma série de intervalos microtonais específicos, que criam uma sonoridade distinta e rica. O vídeo a seguir é um exemplo de música árabe que possui notas microtonais.

Na música indiana, especialmente a música clássica hindustani e a música carnática, também fazem uso extensivo de microtons. As ragas indianas, que são melodias tradicionais, são construídas com base em intervalos microtonais sutis e complexos. Cada raga tem uma combinação específica de intervalos microtonais, criando uma experiência sonora única.

O exemplo a seguir, mostra a melodia microtonal na música hindu. Tanto vocal quanto instrumental passeiam por entre os tons de forma natural, desvendando tanto a melodia quanto a harmonia da microtonalidade.

A música tradicional chinesa também incorpora a microtonalidade em sua prática musical. O sistema de afinação chinês, conhecido como “temperamento justificado”, possui intervalos microtonais que diferem dos tons temperados ocidentais. Esses microtons são utilizados para criar escalas e acordes distintos, conferindo uma sonoridade característica à música chinesa. Veja no exemplo a seguir uma mostra da música chinesa cuja tradução livre para o português é algo como Guzheng: Primavera, Rio e Flor em noite de lua.

A Importância Cultural e Criativa da Microtonalidade

A microtonalidade desempenha um papel fundamental na diversidade cultural e criativa da música em todo o mundo. Ao explorar intervalos microtonais, as tradições musicais podem expressar uma gama mais ampla de emoções e nuances sonoras, criando identidades musicais únicas.

Além disso, a microtonalidade também tem sido uma fonte de inspiração para compositores contemporâneos, que buscam expandir os limites da música e explorar novas possibilidades sonoras. Ao incorporar microtons em suas composições, eles desafiam as convenções musicais estabelecidas, abrindo caminho para uma experimentação sonora mais ampla e imaginativa.

A música microtonal nos leva a um território sonoro fascinante, onde intervalos sutis e complexos são explorados além dos limites da escala temperada ocidental. Essa abordagem enriquece a experiência musical, permitindo que diferentes culturas expressem suas identidades musicais únicas e incentivando a criatividade de compositores contemporâneos. Também nos desafia a expandir nossa percepção sonora e a explorar novas possibilidades musicais. Ela nos convida a sair da zona de conforto da escala temperada ocidental e a descobrir novos tons e matizes que podem nos surpreender e inspirar.

Portanto, ao ouvir uma melodia microtonal, esteja aberto e receptivo, permitindo-se ser transportado para um mundo sonoro diferente. Explore as nuances sutis dos intervalos microtonais e deixe-se envolver pela complexidade e pela beleza que eles têm a oferecer.

Microtonalidade na Música Ocidental

E na música ocidental? É possível encontrar a microtonalidade? De certa forma sim, ao usar instrumentos capazes de modular continuamente de uma nota a outra. Instrumentos de sopro podem fazer isso, ou quando um guitarrista faz um “bend” na corda durante o solo, ele está passando por microtons. No início da música Rhapsody in Blue Debut de George Gershwin, o clarinete faz um glissando indo de fá grave a si agudo, passando por todas as notas da escala. Dê uma olhada no início da música no vídeo a seguir.

No entanto, nestes exemplos, a música passa pelos microtons, mas não repousa sobre eles. Para que isso seja possível é preciso usar instrumentos em que seja possível tocar microtons, ou adaptá-los. Foi o que a banda australiana King Gizzard and the Lizard Wizard fez ao lançar seu álbum “Flying Microtonal Banana” que é escrita em escala de 24 notas ao invés de 12.

No vídeo a seguir você pode perceber que a guitarra tem mais divisões no braço do que as tradicionais. Essa modificação foi inspirada no instrumento turco blagama (veja figura a seguir). O guitarrista Stu Mckensie escreveu o álbum para ser tocado em sua guitarra microtonal.

Blagama Turca – Instrumento microtonal

Notação Musical da Música Microtonal

Mas como é feita a notação musical da música microtonal? Bem, há variações de acordo com cada cultura, além de como a escala está subdividida. No entanto, é possível adaptar a escrita usual e acrescentar microtons. veja na figura a seguir que alguns sinais de sustenidos apresentam uma ou três linhas verticais ao invés do usual que são duas linhas. Isso mostra que aquela nota está acima ou abaixo da nota, mas sem alcançar a próxima na escala cromática.

Também podemos criar acordes totalmente novos com estes intervalos microtonais. Levi Mclain mostra em um vídeo em seu canal do YouTube como podemos encontrar acordes que não são nem maiores e nem menores, mas estão entre eles como os acordes sub-menores e os acordes super-maiores. Parece estranho, e na verdade é para nós que estamos acostumados às convenções da música ocidental. A microtonalidade é um mundo completamente novo para nós ocidentais. No entanto, vale a pena conhecer e se quiser se aventurar por que não criar suas próprias composições microtonais?

Para Saber Mais

Microtonality in Western Music by David Benett – YouTube (Microtonality in Western Music – YouTube)

20-th Century Microtonal Notation – Gardner Read

Microtonalis: A systematic Approach to Microtonal Composition – Jones Jesse

Çifteli: This microtonal instrument changed the way I think about music bt David Hilowitz – YouTube (Çifteli: This microtonal instrument changed the way I think about music – YouTube)

How to make Microtonal Lo-Fi Hip Hop by Adam Neely – YouTube (How to make Microtonal Lo-Fi Hip Hop – YouTube)