A História da Viola Sertaneja

A música sertaneja é um dos gêneros mais populares e queridos do Brasil. No coração desse estilo musical encontra-se a viola sertaneja também conhecida como viola caipira, um instrumento de dez cordas que desempenhou um papel essencial no desenvolvimento da cultura e da identidade nacional. Neste post, vamos explorar a fascinante história da viola sertaneja, desde suas origens até sua evolução ao longo dos anos, destacando grandes nomes que contribuíram para sua popularização e discutindo seu impacto cultural. Vamos viajar no tempo e mergulhar nesse rico patrimônio musical.

A música sertaneja é uma das mais emblemáticas expressões culturais do Brasil, carregando em suas melodias a alma e as histórias do povo do campo. Seu surgimento remonta ao período colonial, no século XVI, quando a chegada dos colonizadores portugueses trouxe influências musicais que se mesclaram com os ritmos indígenas e africanos presentes na região.

Em sua forma mais primitiva, este estilo surgiu como uma forma de expressão da vida e das experiências dos vaqueiros e boiadeiros que conduziam o gado pelo vasto território brasileiro. Esses homens do campo entoavam cantigas simples, com letras que narravam as jornadas, a solidão e as saudades da terra natal. Essa tradição oral foi se desenvolvendo ao longo dos séculos, transmitida de geração em geração, até ganhar os palcos e os estúdios nas décadas mais recentes.

Origens da Viola Sertaneja

Os primeiros habitantes do país, os povos indígenas, já usavam instrumentos de cordas em suas celebrações e rituais. Com a chegada dos colonizadores europeus, novos elementos musicais foram introduzidos, criando uma fusão de influências culturais.

Quanto à origem da viola caipira, é impossível falar sobre a música sertaneja sem mencionar esse instrumento tão característico. Com o passar dos anos, a viola se consolidou como o instrumento por excelência da música sertaneja, acompanhando as modas, os folguedos e as festas populares.

Os colonizadores trouxeram consigo instrumentos musicais como violas e violões, que se tornariam a base da música sertaneja. Com o passar do tempo, esses instrumentos foram adaptados e ganharam características únicas, influenciadas pelas tradições locais e pelo estilo de vida do interior do Brasil.

A viola caipira é uma variação da guitarra ibérica, que chegou ao Brasil com os colonizadores. Com o tempo, a viola foi se adaptando e ganhando peculiaridades próprias, especialmente no interior do país.

As cordas duplas e a característica afinação ponteada conferem um som inconfundível à viola caipira, possibilitando a execução de melodias e ritmos que se harmonizam perfeitamente com o contexto sertanejo.

Um marco significativo para a consolidação do estilo sertanejo e da viola caipira ocorreu em meados do século XX, quando surgiram as primeiras duplas sertanejas gravando discos e conquistando o público. Nessa época, a música sertaneja expandiu-se além das áreas rurais e passou a ocupar um espaço de destaque nas rádios e na indústria fonográfica. Duplas lendárias como Tonico e Tinoco, Vieira e Vieirinha e Cascatinha e Inhana popularizaram a música sertaneja por todo o país.

O papel da viola na música brasileira

A viola sertaneja assumiu um papel central na música brasileira. Ela se tornou o instrumento preferido dos cantadores e violeiros, que viajavam pelo país contando histórias e cantando suas vivências através de modas e cantigas. Esses artistas itinerantes eram conhecidos como “cantadores de viola”.

Ao longo do século XX, a música sertaneja e a viola ganharam ainda mais popularidade, encontrando espaço nas rádios e nos palcos. Artistas como Tião Carreiro e Pardinho, Almir Sater e Renato Andrade se destacaram como verdadeiros ícones da viola sertaneja, levando o gênero a novos patamares.

A Viola Sertaneja Hoje

A viola sertaneja continuou a evoluir com o tempo. Novas tecnologias e estilos musicais se fundiram à tradição, resultando em uma abordagem mais contemporânea da música sertaneja. Ainda assim, a essência e o som característico da viola são mantidos, preservando suas raízes culturais.

“A música sertaneja é o reflexo das tradições, da cultura e da história do povo brasileiro do campo. A viola caipira, com sua sonoridade única, é o instrumento que dá voz e alma a essa rica expressão musical.”

Paulo Vanzolini, renomado músico e pesquisador da cultura popular brasileira.

Com o passar dos anos, a música sertaneja foi se renovando, incorporando novos estilos e influências, tornando-se um fenômeno cultural e um dos gêneros musicais mais populares do Brasil. Artistas como Chitãozinho & Xororó, Zezé Di Camargo & Luciano e tantos outros continuam a preservar a tradição sertaneja, ao mesmo tempo que a reinventam para as novas gerações. É comum diferenciar o sertanejo raiz do sertanejo moderno. A verdade é que ambos estilos são ícones de uma música originalmente brasileira e regional.

Aproveite para ouvir e tocar junto o arranjo que se encontra em nosso canal no You Tube com solo de viola para a música Evidências de Chitãozinho e Xororó. No vídeo você tem acesso à tablatura e à partitura com acordes. Caso interesse em adquirir a partitura pode comprá-la no site Sheet Music Pro ou Sheet Music Plus clicando no botão logo abaixo do vídeo.

Afinações da Viola Sertaneja

A viola sertaneja possui diversas maneiras de ser afinadas. Talvez a mais popular seja a afinação Cebolão que pode ser em Mi ou em Ré. Além dessa há diversas outras como Rio Acima, Rio Abaixo, Boiadeira, Paraguaçu e outras.

Para saber mais sobre afinações da viola caipira acesse nosso post Afinações da Viola Caipira clicando no link.

Grandes Nomes da Viola Sertaneja

Tião Carreiro e Pardinho

Tião Carreiro e Pardinho foram uma dupla lendária da música sertaneja. Sua parceria duradoura rendeu inúmeros sucessos e clássicos da viola sertaneja, como “A Beira do Cais” e “Pagode em Brasília”. Suas habilidades na viola e a riqueza de suas composições continuam influenciando gerações de músicos.

Almir Sater

Almir Sater é outro nome que marcou a história da viola sertaneja. Com seu estilo único, que incorpora influências do folk e da música caipira, ele conquistou o público brasileiro e internacional. Músicas como “Tocando em Frente” e “Chalana” são consideradas verdadeiros hinos da música sertaneja.

Renato Andrade

Renato Andrade é um representante contemporâneo da viola sertaneja. Sua técnica impressionante e interpretação emocionante têm cativado a atenção do público mais jovem, garantindo a continuidade e renovação desse estilo musical tradicional.

O Impacto Cultural da Viola Sertaneja

A viola sertaneja transcende a música, desempenhando um papel fundamental na cultura brasileira. Suas letras carregadas de emoção e histórias de amor, saudade e vida no campo conectam-se profundamente com o público, refletindo as experiências e valores compartilhados por muitos brasileiros.

Este instrumento continuará a se reinventar e atrair novos talentos ao longo dos anos. Com a crescente internacionalização da música brasileira, a viola pode encontrar novos admiradores em todo o mundo, consolidando-se como uma joia cultural de valor inestimável.

Acesse também : Viola Sertaneja: Faça sua Tablatura no Musescore

Muito além dos 12 tons: explorando as Riquezas da Música Microtonal

A música tem o poder de nos transportar para diferentes estados de espírito, evocar emoções e despertar nossa imaginação. Desde a antiguidade, nós humanos buscamos explorar e expandir os limites da música e talvez você esteja se perguntando, mas o que é isso de música microtonal? A música ocidental como a conhecemos é baseada em doze tons, que são as notas da escala temperada : dó, do#, ré, ré #, mi e assim por diante até completar toda a escala cromática que possui doze notas. No entanto, a música oriental faz uso de notas que situam-se entre as notas da escala cromática. Assim, entre o dó e o dó sustenido, temos infinitas frequências sonoras. Neste post, vamos explorar o fascinante mundo da microtonalidade musical, explicando o que é, comparando-a com a música ocidental. Vamos também mostrar alguns exemplos de seu uso em diferentes culturas ao redor do mundo.

O Que é Microtonalidade?

Para compreender a microtonalidade, primeiro vamos recapitular o sistema de afinação que utilizamos. Na música ocidental, usamos uma escala temperada, dividida em 12 tons iguais, chamados de semitons. Essa divisão igual permite uma ampla variedade de combinações de tons e acordes, mas também limita a precisão e a riqueza sonora. No piano, quando tocamos um ré bemol, ele tem o mesmo som do dó sustenido, porque a nota é afinada em uma frequência m´édia. Já no violino, por exemplo é possível perceber que dó sustenido e ré bemol não são a mesma nota. No entanto, se estamos dentro de uma mesma escala, temos 12 notas na escala cromática e a distância entre elas é de meio tom ou um semitom.

A microtonalidade, por outro lado, expande essa divisão em unidades menores do que um semitom. Os microtons são intervalos que representam frações do tom, permitindo uma maior flexibilidade e uma paleta sonora mais ampla. Isso significa que podemos acessar intervalos que não estão presentes na música ocidental tradicional, como quartos de tom, quintos de tom, etc.

Comparando Tons Temperados com Microtons

Para compreender melhor a diferença entre tons temperados e microtons, vamos usar um exemplo simples. Imagine uma escala de oito notas, semelhante à escala maior ocidental. Na música ocidental, cada nota é separada por um semitom. No entanto, na música microtonal, podemos dividir cada semitom em intervalos ainda menores.

Vamos supor que dividamos cada semitom em dois microtons. Agora, em vez de oito notas em nossa escala, teremos dezesseis, permitindo combinações de intervalos mais variados e complexos. Essa abordagem oferece uma liberdade criativa maior, permitindo que os compositores explorem uma ampla gama de nuances sonoras.

Exemplos de Música Microtonal em Outras Culturas

Agora que entendemos o conceito básico da microtonalidade, vamos explorar como ela é usada em diferentes culturas musicais ao redor do mundo. A cultura árabe, a israelense, a hindu e a chinesa fazem uso da microtonalidade em sua música. Cada cultura possui instrumentos próprios, em geral de corda ou sopro onde é possível trabalhar entre os tons.

A música árabe, por exemplo, é conhecida por seu uso de maqams, que são escalas modais microtonais. Cada maqam possui uma série de intervalos microtonais específicos, que criam uma sonoridade distinta e rica. O vídeo a seguir é um exemplo de música árabe que possui notas microtonais.

Na música indiana, especialmente a música clássica hindustani e a música carnática, também fazem uso extensivo de microtons. As ragas indianas, que são melodias tradicionais, são construídas com base em intervalos microtonais sutis e complexos. Cada raga tem uma combinação específica de intervalos microtonais, criando uma experiência sonora única.

O exemplo a seguir, mostra a melodia microtonal na música hindu. Tanto vocal quanto instrumental passeiam por entre os tons de forma natural, desvendando tanto a melodia quanto a harmonia da microtonalidade.

A música tradicional chinesa também incorpora a microtonalidade em sua prática musical. O sistema de afinação chinês, conhecido como “temperamento justificado”, possui intervalos microtonais que diferem dos tons temperados ocidentais. Esses microtons são utilizados para criar escalas e acordes distintos, conferindo uma sonoridade característica à música chinesa. Veja no exemplo a seguir uma mostra da música chinesa cuja tradução livre para o português é algo como Guzheng: Primavera, Rio e Flor em noite de lua.

A Importância Cultural e Criativa da Microtonalidade

A microtonalidade desempenha um papel fundamental na diversidade cultural e criativa da música em todo o mundo. Ao explorar intervalos microtonais, as tradições musicais podem expressar uma gama mais ampla de emoções e nuances sonoras, criando identidades musicais únicas.

Além disso, a microtonalidade também tem sido uma fonte de inspiração para compositores contemporâneos, que buscam expandir os limites da música e explorar novas possibilidades sonoras. Ao incorporar microtons em suas composições, eles desafiam as convenções musicais estabelecidas, abrindo caminho para uma experimentação sonora mais ampla e imaginativa.

A música microtonal nos leva a um território sonoro fascinante, onde intervalos sutis e complexos são explorados além dos limites da escala temperada ocidental. Essa abordagem enriquece a experiência musical, permitindo que diferentes culturas expressem suas identidades musicais únicas e incentivando a criatividade de compositores contemporâneos. Também nos desafia a expandir nossa percepção sonora e a explorar novas possibilidades musicais. Ela nos convida a sair da zona de conforto da escala temperada ocidental e a descobrir novos tons e matizes que podem nos surpreender e inspirar.

Portanto, ao ouvir uma melodia microtonal, esteja aberto e receptivo, permitindo-se ser transportado para um mundo sonoro diferente. Explore as nuances sutis dos intervalos microtonais e deixe-se envolver pela complexidade e pela beleza que eles têm a oferecer.

Microtonalidade na Música Ocidental

E na música ocidental? É possível encontrar a microtonalidade? De certa forma sim, ao usar instrumentos capazes de modular continuamente de uma nota a outra. Instrumentos de sopro podem fazer isso, ou quando um guitarrista faz um “bend” na corda durante o solo, ele está passando por microtons. No início da música Rhapsody in Blue Debut de George Gershwin, o clarinete faz um glissando indo de fá grave a si agudo, passando por todas as notas da escala. Dê uma olhada no início da música no vídeo a seguir.

No entanto, nestes exemplos, a música passa pelos microtons, mas não repousa sobre eles. Para que isso seja possível é preciso usar instrumentos em que seja possível tocar microtons, ou adaptá-los. Foi o que a banda australiana King Gizzard and the Lizard Wizard fez ao lançar seu álbum “Flying Microtonal Banana” que é escrita em escala de 24 notas ao invés de 12.

No vídeo a seguir você pode perceber que a guitarra tem mais divisões no braço do que as tradicionais. Essa modificação foi inspirada no instrumento turco blagama (veja figura a seguir). O guitarrista Stu Mckensie escreveu o álbum para ser tocado em sua guitarra microtonal.

Blagama Turca – Instrumento microtonal

Notação Musical da Música Microtonal

Mas como é feita a notação musical da música microtonal? Bem, há variações de acordo com cada cultura, além de como a escala está subdividida. No entanto, é possível adaptar a escrita usual e acrescentar microtons. veja na figura a seguir que alguns sinais de sustenidos apresentam uma ou três linhas verticais ao invés do usual que são duas linhas. Isso mostra que aquela nota está acima ou abaixo da nota, mas sem alcançar a próxima na escala cromática.

Também podemos criar acordes totalmente novos com estes intervalos microtonais. Levi Mclain mostra em um vídeo em seu canal do YouTube como podemos encontrar acordes que não são nem maiores e nem menores, mas estão entre eles como os acordes sub-menores e os acordes super-maiores. Parece estranho, e na verdade é para nós que estamos acostumados às convenções da música ocidental. A microtonalidade é um mundo completamente novo para nós ocidentais. No entanto, vale a pena conhecer e se quiser se aventurar por que não criar suas próprias composições microtonais?

Para Saber Mais

Microtonality in Western Music by David Benett – YouTube (Microtonality in Western Music – YouTube)

20-th Century Microtonal Notation – Gardner Read

Microtonalis: A systematic Approach to Microtonal Composition – Jones Jesse

Çifteli: This microtonal instrument changed the way I think about music bt David Hilowitz – YouTube (Çifteli: This microtonal instrument changed the way I think about music – YouTube)

How to make Microtonal Lo-Fi Hip Hop by Adam Neely – YouTube (How to make Microtonal Lo-Fi Hip Hop – YouTube)

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