Você já deve ter se deparado alguma vez com o termo acorde de empréstimo modal. O que vem a ser isso? Sabemos que os acordes são formados sobre uma determinada escala. Por exemplo, a escala de dó maior formada pelas notas dó, ré, mi, fá, sol, lá e si, todas naturais, quando combinadas entre si formam acordes. Assim, temos o que chamamos de campo harmônico que pode ser formado sobre a escala maior ou menor. Para saber mais sobre campos harmônicos dê uma olhada nos posts anteriores onde detalhamos os campos harmônicos maiores e menores.
O acorde de empréstimo modal é quando se utiliza um acorde que não pertence ao campo harmônico da tonalidade, mas ele faz parte do campo harmônico da tonalidade homônica. Deixe me explicar: Imagine que você está tocando em dó maior e na música utiliza um acorde que faz parte do campo harmônico de dó menor. A este acorde chamamos de acorde de empréstimo modal (AEM).
Os campos harmônicos são formados pelas notas da escala tocadas juntas em intervalos de terça, assim, na escala de dó maior temos os acordes : C7M, Dm7, Em, F7M, G7 e B75b. Já a escala de dó menor pode ter algumas variações, já que não há apenas uma escala menor, mas três: a menor natural, menor melódica e menor harmônica. Vamos considerar apenas o campo harmônico sobre a escala de dó menor natural que tem as seguintes notas: C, D, Eb, F, G, Ab e Bb e dão origem aos seguintes acordes: Cm7, Dm7 5b, Eb7M, Fm7, Gm7, Ab7M e Bb7. Então, se a música estiver sendo tocada em dó maior e tiver alguma passagem onde , por exemplo, apareça o acorde de Fm7 ele será considerado um Acorde de empréstimo modal (AEM) já que no campo harmônico de dó maior não há Fm7. O oposto também é verdadeiro, ou seja, se a música estiver sendo tocada em dó menor e tiver uma passagem onde o acorde, por exemplo, de G7 for tocado ele também é considerado um acorde de empréstimo modal (AEM).
Exemplo
Na música Luiza de Tom Jobim podemos ver na análise harmônica que a cadência II-V resolve no primeiro grau. Veja que o tom da música é dó menor, mas a resolução é feita em dó com sétima maior que não faz parte do campo harmônico de dó menor, mas faz parte do campo harmônico de dó maior.
No trecho da música Luiza que usamos como exemplo, o primeiro grau da escala menor foi substituído pelo primeiro grau da escala maior, mas a alteração poderia ter sido em qualquer grau, desde que homônimos, ou seja, tenham o mesmo nome. O acorde pode ser inclusive emprestado de outro modo. A figura a seguir é uma tabela de substituição de acordes de empréstimo modal disponibilizada pelo Prof. Nelson Faria. Nesta tabela, cada linha refere-se ao campo harmônico em um dos modos gregos, então um acorde de um determinado grau pode ser substituído por qualquer outro na mesma coluna.
Deixo a seguir o vídeo do mestre Nelson Faria explicando sobre os acordes de empréstimo modal com exemplos e ao violão.
Cada vez mais a inovação tecnológica afeta os mais diferentes negócios incluido o mercado musical. Se no passado a utilização de harmonizações computadorizadas causaram discussões e resistências por parte dos mais tradicionais, ao mesmo tempo criou novas oportunidades para aqueles que abraçaram a nova tecnologia. A indústria de distribuição musical foi totalmente modificada com o streaming de músicas e grandes gravadoras foram simplesmente substituídas pelas novas empresas como Apple, Spotify, Deezer e outras. Os novos desenvolvimentos em inteligência artificial têm revolucionado não apenas a distribuição de conteúdo, mas também a sua criação. Pode-se questionar até que ponto uma composição musical produzida por inteligência artificial é arte ou não, mas o fato é que o mercado não faz esta distinção.
Doodle em Homenagem a Bach
No mês de março de 2019, a Google lançou um doodle comemorativo sobre Bach utilizando inteligência artificial que é capaz de harmonizar qualquer melodia inserida pelo usuário no estilo barroco de Bach. o modelo usado para este Doodle foi desenvolvido pelo time de inteligência artificial Magenta que é um projeto de pesquisa open source mantido pela Google para explorar machine learning em processos que usem a criatividade. o projeto Magenta é distribuído em linguagem Python ou Java, construído na plataforma Tensorflow. Foram utilizadas 308 composições de Bach para alimentar o sistema com dados que recriam o estilo do compositor através do aprendizado de máquina. De certa forma, o programa “aprende” a harmonizar como Bach “copiando” seu estilo. Mas como funciona isso? A inteligência artificial é criada a partir de dados existentes, e a partir do padrão de entrada é capaz de adaptar-se e produzir conteúdo novo. A grande sacada é a capacidade de aprendizado da máquina, que uma vez alimentada com mais exemplos, é capaz de utilizá-lo para melhorar o resultado final.
Redes Neurais
Outro projeto do grupo Magenta é o uso da inteligência artificial para gerar a partitura de um improviso a partir de um aqruivo de áudio previamente gravado, bastando fazer o upload do áudio e depois baixar o arquivo midi. O que o programa faz não é apenas colocar as notas na partitura, mas a partir de um arquivo de áudio, no formato wav, por exemplo, cria um arquivo midi que ao ser executado preserva a expressão da interpretação. A vantagem é que você não precisa gravar em midi podendo usar qualquer instrumento acústico ou mesmo a voz. Quanto mais dados, mais perfeito será o produto final. Você pode testar este exemplo visitando o site https://piano-scribe.glitch.me/ e fazendo o upload de seu arquivo no aplicativo online. Faça o teste. Grave sua improvisação e suba o arquivo na plataforma. Em poucos minutos terá o arquivo midi em suas mãos. Com esta tecnologia, não é preciso ter um teclado ou piano digital com saída midi para gerar sua partitura. Você pode usar qualquer instrumento acústico ou até a voz. Mais informação sobre este projeto pode ser acessada no link a seguir:https://magenta.tensorflow.org/onsets-frames
Álbum Musical com ajuda da Inteligência artificial
A cantora, modelo e You Tuber Taryn Southern compôs e lançou em 2017 um álbum entitulado I’m AI (Eu sou a inteligência artificial). Ela utilizou um software chamado Amper para elaborar suas composições. O vídeo a seguir mostra o clip de uma das músicas de Taryn.
Crie sua própria música usando Inteligência Artificial
Você pode criar sua própria música utilizando inteligência artificial e até usar em seus vídeos, bastando dar os créditos. O site Juckedeck.com faz isso para você. Basta fazer algumas configurações escolhendo gênero, tempo, instrumentos e voilá, o site gera uma música que pode ser baixada e utilizada com royalties free, bastando dar os créditos do site, é claro. Há possibilidade de comprar os direitos também. Vale a pena conferir. Criamos o vídeo as seguir utilizando as ferramentas do Juckedeck.
Robôs Regentes
Outra aplicação da inteligência artificial na música é o uso de robôs para reger uma orquestra. O robô Yumi da ABB regeu a orquestra Filarmônica Lucca em uma apresentação de Ópéra com a presença do tenor italiano Andrea Bocelli em 2017 no Teatro Verdi em Pisa na Itália. A tecnologia que torna isso possível é chamada de machine learning, e é a mesma usada no Doodle da Google ou nas composições usando o software Amber. Neste caso, o desenvolvimento da performance do Yumi foi feita em duas etapas. Na primeira, foram capturados movimentos do maestro durantes os ensaios da orquestra e a segunda etapa envolve o ajuste fino dos movimentos do robô sincronizados com a música. Yumi atingiu um alto grau de fluidez nos seus gestos e incrível levez e expressão.
Em 2008 o robô Asimo da Honda abriu a apresentação da orquestra Sinfônica de Detroit regendo a música Impossible Dream
O Impacto para os Músicos
Não acredito que a inteligência artificial irá substituir o compositor, mas disponibilizará ferramentas poderosas que facilitarão o processo criativo e irão revolucionar o ensino da música. Haverá impactos? Claro que sim. Pode ser que para alguns mercados o músico perca competitividade. Hoje é possível criar grandes composições e executá-las com um clique através de softwares que emulam uma orquestra virtual eliminando a necessidade de se contratar músicos para gravar uma trilha de filme, por exemplo. Esta tecnologia já é usada há tempos pelas grandes gravadoras. Com a inteligência artificial estes softwares ficarão cada vez melhores, baixando a quase zero o orçamento destinado à composição e execução da trilha sonora.
A nova tecnologia traz novamente uma grande mudança de paradigmas na indústria fonográfica e por que não dizer, na educação musical. Com o advento da computação, ficou muito mais fácil estudar música, entender seus conceitos e também usar a máquina para estudar. Com os novos desenvolvimentos nesta área, muitos irão reclamar, outros não aceitarão, mas aqueles que abraçarem a nova tecnologia e aproveitarem as novas oportunidades de negócios colherão os frutos.
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